143 anos de história e resistência
Os Gabinetes de Leitura criados no Brasil pelos
portugueses, o do Rio de Janeiro foi o primeiro, mais tarde virão os do Recife
(1850) e o da Bahia (1863). Sabe-se ainda da existência de outros Gabinetes
fundados normalmente por estrangeiros que residiam no Brasil neste momento. Em
Sergipe existiram, o Gabinete Literário Laranjeirense, o Gabinete de Leitura de
Riachuelo, Gabinete de Leitura de Tobias Barreto, e o Gabinete de leitura de Maruim
que esse ano esta completando 136 nos de existência como guardiã
na história e memória do povo
sergipano.
O Gabinete de Leitura de Maruim
teve como mentor o cônsul Otto Schramm. As cartas de sua tia Adolphine revelam
que em 1860, já possuía em sua residência um rico acervo, que possivelmente,
todo ou parcialmente, fora transferido para a biblioteca do Gabinete. Estamos
tratando de um espaço de sociabilidade, com um vasto capital cultural, não só
para Maruim, mas de referência em Sergipe; tanto enquanto Província do Império,
como em Estado da Federação, haja vista a importância deste espaço em ocasião
dos acalorados debates liberais republicanos.
Ultimamente o historiador Denio Azevedo tem
pesquisado a fundo a história do Gabinete de leitura, e nesse aniversario dos
136 anos será um dos conferencistas das comemorações, segundo o pesquisador, o
alemão Otto Schramm é o grande
responsável pela criação do Gabinete de Leitura de Maruim em 1877, uma
instituição privada, veiculadora dos ideais liberais, abolicionistas e
republicanos.
De acordo com o catalogo do Gabinete, no acervo da instituição em
Maruim no final do século XIX, constava obras de Voltaire (1860), Rousseau
(1857), Júlio Verne (1878), Michelet (1863), Balzac (1863), M. A. Thiers (1862)
com a sua “História da Revolução Francesa”, Antônio Feliciano de Castilho
(1863) em “Camões: estudo histórico e poético”, Frédéric Soulie (1852) com “Le
Veau d’or”, I. F. da Silva e L. A. Rebello da Silva (1853) em “Poesias de
Manuel Maria de Barbosa du Bocage”, Sebastião da Rocha Pitta (1880) “História
da América Portugueza”, Visconde de Taunay (1896) com “Innocencia”. Obras
normalmente editadas em Paris, Bruxelas e Lisboa.
Em 1889 os sócios do Gabinete de Leitura de Maruim
inauguram a “Revista Literária”, que circulou durante dois anos. Lembrando que
esta instituição tinha a sua própria tipografia.
O Gabinete
era um dos locais onde a nova tendência política seria apresentada, portanto,
um grupo que fazia “oposição” ao principal representante político e econômico
do município, o Barão de Maruim, decide fundar o Gabinete e difundir os ideais
liberais, buscando o reconhecimento por parte da população de um capital
simbólico necessário para moldar a sociedade em questão.
Os liberais
republicanos queriam criar uma identidade e a maneira escolhida para tal foi a
de criticar a organização política, econômica e cultural do Império A crença de
que era possível construir uma imagem de progresso, levar Sergipe rumo à
civilização, com os ideais liberais e republicanos que marcavam a realidade
nacional neste momento da criação do Gabinete de Leitura de Maruim e participar
ativamente no processo de construção desta identidade são os principais fatores
que incentivaram a participação desses agentes em instituições culturais como o
Gabinete de Leitura de Maruim.
A base de sustentação dos seus discursos foi os
ideais liberais e republicanas, se tornando como instituições de utilidade
pública, o que demonstrava a sua relação direta com o estado. Já com relação à
necessidade de democratização da cultura, almejavam ampliar a ação instrutiva
para os grupos economicamente menos favorecidos da sociedade, fundando escolas,
franqueando ao público uma Biblioteca, promovendo conferências literárias e
científicas, colóquios, festejos no período
de aniversário das instituições, e os
saraus.
Como advento da República, percebe-se uma mudança
significativa nas relações do Gabinete de Leitura de Maruim com os Governantes
de Sergipe, que podem ser exemplificados através do reconhecimento de Utilidade
Pública através do Deputado Federal, natural de Maruim, Deodato Maia, o
Gabinete de Maruim é reconhecido de Utilidade Pública Federal em 1º de outubro
de 1919, através do decreto federal nº 3776 ou de concessão de subvenções. A
esfera pública que inicia como particular e literária, sobrevivendo apenas das
doações dos seus sócios, passa a ter um auxílio expressivo do Estado.
Na sua inauguração o Gabinete funcionava em uma
casa alugada à rua do Cabula, atualmente rua Fausto Cardoso e em 17 de janeiro
de 1926, com o auxílio da Prefeitura Municipal, adquiriu um prédio próprio na
Praça da Matriz O Gabinete de Leitura de Maruim surge enquanto lugar da
sociabilidade, uma esfera pública aonde, atrelada a outras instituições
liberais e republicanas, no Brasil.
Ressaltamos que na tribuna do Gabinete passaram
grandes conferencistas como, Tobias Barreto, Silvio Romero, Fausto Cardoso,
Gumercindo Bessa, Felisbelo Freire, Homero de Oliveira e tantos outros , temos nos dias atuais como conferencista, a Prof.ª Verônica Nunes,
Aglaé Fontes de Alencar, Prof.
Dênio Azevedo e o historiador Adailton Andrade.
Nas comemorações de aniversário do gabinete de
Leitura mantiveram as tradições das grandes conferencias, de trazer para a
sociedade temos importantes que vem contribuir para a preservação e memória da
cultura local, isso aconteceu a sete anos atrás em 2013 dessa data para os
dias atuais essas coisas não mais aconteceram, Dênio Azevedo, Professora Verônica Nunes e o
professor historiador Adailton Andrade.
São os novos
os desafios voltados para a
salvaguarda do que ainda resta, preservador o que foi no passado o campo da ideias , do saber, chamado até de tempo das luzes. Maruim tem história que nos últimos anos foi relegado a pão e circo, a história e a memória do Gabinete
de leitura de Maruim nos seus 143 anos de tradição no ano que Sergipe
completa 200 anos nada se fez
para lembrar e encher esse povo de
orgulho em ter na sua
cidade um lugar de memória,
com tudo isso, tempos sim algo de
concreto do sentido de preservação,
salvaguarda hoje o único trabalho que nos traz o
conhecimento sobre o Gabinete e a
história de Maruim, são as pesquisas
deixadas por Joel
Aguiar , trabalho sério com fontes
que remonta tempos
de glórias onde a cultura
o saber era levando muito a sério. Viva Maruim, viva o Gabinete
de Leitura. Recordamos o Desembargador Joel Aguiar o único guardião
da história e da memória do povo
de Maruim.
_______________________
Adailton
Andrade é historiador, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, membro
do Movimento Cultural Antônio Garcia Filho da Academia Sergipana de Letras e
faz parte da Academia Sancristovense de Letras e Artes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário