*Adailton Andrade
O bairro Praia Formosa, hoje conhecido como 13 de Julho, durante alguns anos passou por profundas transformações urbanísticas desde a mudança da capital até os dias de hoje . Nesse sentido, o que se vê é a grande especulação imobiliária daquela área tornando o m² mais caro de Aracaju sendo um dos mais valorizados bairros de nossa capital.
Antigo arrabalde denominado de Ilha dos Bois, a área foi vendida ao Governo Imperial pelo sitiante José Honório dos Santos em 1872. Até onde se sabe, este é o registro mais recuado que se tem do local. O governo pretendia construir ali um lazareto - abrigo para controle sanitário, onde são mantidas pessoas supostas ou portadoras de moléstias epidêmicas, como cólera e varíola que se espalharam no século XIX.
Na década de 1930 o bairro 13 de Julho perdeu seu prestígio de lazer praiano após a construção da ponte do rio Poxim, a qual facilitou o acesso à praia de Atalaia. Desde então, paulatinamente, os aracajuanos substituíram o banho ribeirinho pelo oceânico. Além disso, nas últimas décadas, com a intensa ocupação imobiliária, rios e riachos que banham a área vêm servindo de esgotos sanitários, prejudicando a pesca e extinguindo o lazer balneário.
Com a eclosão da Revolta de 5 de Julho de 1924, em São Paulo, iniciaram-se em Sergipe articulações de solidariedade aos insurretos que sob o comando de Isidoro Dias Lopes ocuparam a capital paulista. Segundo declarações posteriores de Maynard, diante da perspectiva de requisição da guarnição sergipana pelo governo federal para a repressão aos rebeldes no Sul e da impossibilidade de adesão em São Paulo “urgia levar a efeito um levante local, cuja eficiência, além de se traduzir na ausência do próprio 28º BC ao lado das forças legais, atrairia fatalmente contra si outras que descongestionariam o principal teatro de luta”. Liderando o movimento Augusto Maynard, João Soarino e Eurípides Lima acertaram sua deflagração para a madrugada do dia 13 de julho. Depois de conquistarem a adesão do segundo-tenente Manuel Messias de Mendonça, intendente do 28º BC e responsável pelo depósito de munições, comunicaram o plano aos sargentos que acordaram e armaram os soldados assumindo então o controle do quartel. Desmembrado em três companhias comandadas pelos líderes do levante o contingente do 28º BC tomou o palácio do governo, depondo o presidente do Estado Gracco Cardoso. Em seguida, ocuparam o quartel de polícia, a cadeia pública, o telégrafo, a estação da Companhia Ferroviária Leste Brasileiro, a Companhia Telefônica e a estação de energia elétrica, consumando seu controle sobre a capital.
Os chefes revolucionários organizaram-se então em uma junta governativa militar que imediatamente lançou uma Proclamação ao povo sergipano explicando os objetivos do levante, e tomou as providências necessárias para a defesa da cidade. Entre as medidas adotadas, a abertura de alistamento para voluntários atestou a ampla receptividade que o movimento rebelde encontrou entre a população de Aracaju e muitos municípios interioranos. Entretanto, tropas oriundas de Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Bahia comandadas pelo general Marçal Nonato de Faria cercaram a cidade pelos flancos norte e sul logrando romper as defesas rebeldes. Segundo o livro de José lbarê Costa Dantas, O tenentismo em Sergipe, o cerco legalista a Aracaju provocou total desorganização entre as forças rebeldes. Maynard, principal dirigente da junta governativa militar, teria recebido do general Marçal intimação para render-se, tendo em vista a superioridade numérica dos efetivos legalistas e o fracasso do levante em São Paulo onde os revoltosos haviam sido forçados a abandonar a capital deslocando-se para o interior.
Crises militares foram uma constante na primeira fase da República, mas a partir de 1922 elas ganhariam um novo protagonista: a oficialidade de baixa patente, de que decorreu a denominação "Tenentismo". Encarnando as aspirações da classe média urbana esses revolucionários pugnavam pela adoção do voto livre e secreto e pela moralização dos costumes políticos.
Este episódio foi um dos estopins para a entrada do Brasil no conflito. Conforme um testemunho, os feridos iam chegando "macilentos, esfarrapados com a bestial tragédia refletida nos olhos cheios de espanto e angústia". Cerca de 500 (quinhentas) pessoas faleceram e os corpos começaram, então, a aparecerem em nossas praias.
Após esse clima de guerra a região volta a sua tranqüilidade habitual, sendo povoada por alguns pescadores. Ao final da década de 1920, o local foi tomado pelos veranistas. No início as habitações eram de palhas, não obstante em 1929 já podiam ser verificadas as primeiras casas de alvenaria. Em 1935 era notório um número significativo de moradores fixos. A região permaneceu até 1937 como o maior ponto de banho e de veraneio da capital. Deixando de ser nesse período devido à abertura de avenidas e a construção da ponte sobre o Rio Poxim, que ligava o centro à praia de Atalaia e outras oceânicas.
Em 13 de julho de 1924 inicia-se o tenentismo em Sergipe: Augusto Maynard Gomes, Eurípedes Esteves de Lima, João Soarino de Melo e Manuel Messias de Mendonça souberam cumprir suas missões cívicas e revolucionárias.
Mais de seis décadas depois o bairro 13 de Julho, apesar de suas praias poluídas, é lembrado por se destacar como um dos cartões-postais de Aracaju. Não obstante tenha sido cenário de revoltas e tragédias, é em seu calçadão que citadinos tomam água de côco, fazem caminhadas e brincam o Pré-Caju (festa carnavalesca), seus tradicionais bares e requintados restaurantes, seus prédios e equipamentos urbanos e culturais - como a Biblioteca Pública Epifânio Dória e o Iate Clube, entre outros - fazem do 13 de Julho um dos mais aprazíveis e funcionais bairros de nossa capital.
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Referências Bibliográficas:
CARDOSO Amâncio, Bairro 13 de Julho: uma História
CABRAL, Mário. Roteiro de Aracaju. Guia sentimental da cidade. Aracaju, 1948.
BARRETO, Luiz Antonio. Pequeno Dicionário Prático de Nomes e Denominações de Aracaju. Aracaju: ITBEC/BANESE, 2002.
DANTAS, Ibarê . Historia de Sergipe: republica (1889- 2000) . Rio de janeiro: Tempo Brasileiro,2004
DANTAS, Ibarê . O Tenentismo em Sergipe, Gráfica J. Andrade ,Aracaju, 1999
PORTO, Fernando de Figueiredo. Alguns nomes antigos do Aracaju. Aracaju: Gráfica Editora J. Andrade Ltda., 2003. p. 155-162.
VILAR, José Wellington Carvalho. Os espaços diferenciados da cidade de Aracaju: uma proposta
Mas uma vez,vc está de parabéns.Sou leitora assídua de seus artigos, sempre estou vendo e lendo os mesmos e tbm a gente tem o privilégio de conhecer melhor a historiografia sergipana através do seu trabalho de pesquisa.Parabéns e obrigado por vc mostrar a história de Sergipe.Sucessos sempre.
ResponderExcluirSempre estou vendo seus artigos em seu blog, e percebe que vc demontra se preocupar com a historiografia sergipana.E isso é bom ,prq através do seu trabalho e do seu blog a gente sempre está por dentro da história de Sergipe.Precisamos de pessoa assim como vc.Obrigada por vc sempre está colocando assunto sobre Sergipe.
ResponderExcluirobrigado
ResponderExcluiré essa minha intenção socializar o conhecimento
obrigado
Bom post: Informativo e sucinto. É bom tomar conhecimento de fatos e origens relativos aos locais por onde temos trânsito regularmente. São informações que deveriam estar disponíveis em placas no local e não nos obrigasse a fuçar pergaminhos em bibliotecas. _Abraço.
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