142 ANOS DE HISTÓRIA E MEMÓRIA LITERÁRIA EM SERGIPE.
Os Gabinetes de Leitura criados no Brasil pelos
portugueses, o do Rio de Janeiro foi o primeiro, mais tarde virão os do Recife
(1850) e o da Bahia (1863). Sabe-se ainda da existência de outros Gabinetes
fundados normalmente por estrangeiros que residiam no Brasil neste momento. Em
Sergipe existiram, o Gabinete Literário Laranjeirense, o Gabinete de Leitura de
Riachuelo, Gabinete de Leitura de Tobias Barreto, e o Gabinete de leitura de
Maruim que esse ano esta completando 136 nos
de existência como guardiã na história e memória do povo sergipano.
O Gabinete de Leitura de Maruim teve
como mentor o cônsul Otto Schramm. As cartas de sua tia Adolphine revelam que
em 1860, já possuía em sua residência um rico acervo, que possivelmente, todo
ou parcialmente, fora transferido para a biblioteca do Gabinete. Estamos
tratando de um espaço de sociabilidade, com um vasto capital cultural, não só
para Maruim, mas de referência em Sergipe; tanto enquanto Província do Império,
como em Estado da Federação, haja vista a importância deste espaço em ocasião
dos acalorados debates liberais republicanos.
Dr. Thomaz Rodrigues da Cruz
Primeiro Presidente do Gabinete de Leitura
(1852-1919)
Ultimamente o historiador Denio Azevedo
tem pesquisado a fundo a história do Gabinete de leitura, e nesse aniversario
dos 136 anos será um dos conferencistas das comemorações, segundo o pesquisador,
o alemão Otto Schramm é o grande
responsável pela criação do Gabinete de Leitura de Maruim em 1877, uma
instituição privada, veiculadora dos ideais liberais, abolicionistas e
republicanos.
De acordo com o catalogo do Gabinete, no acervo da instituição em
Maruim no final do século XIX, constava obras de Voltaire (1860), Rousseau
(1857), Júlio Verne (1878), Michelet (1863), Balzac (1863), M. A. Thiers (1862)
com a sua “História da Revolução Francesa”, Antônio Feliciano de Castilho
(1863) em “Camões: estudo histórico e poético”, Frédéric Soulie (1852) com “Le
Veau d’or”, I. F. da Silva e L. A. Rebello da Silva (1853) em “Poesias de
Manuel Maria de Barbosa du Bocage”, Sebastião da Rocha Pitta (1880) “História
da América Portugueza”, Visconde de Taunay (1896) com “Innocencia”. Obras
normalmente editadas em Paris, Bruxelas e Lisboa.
João Rodrigues da Cruz
Patrocinador do Gabinete de Leitura
(1844-1893)
Em 1889 os
sócios do Gabinete de Leitura de Maruim inauguram a “Revista Literária”, que circulou
durante dois anos. Lembrando que esta instituição tinha a sua própria
tipografia.
O Gabinete
era um dos locais onde a nova tendência política seria apresentada, portanto,
um grupo que fazia “oposição” ao principal representante político e econômico
do município, o Barão de Maruim, decide fundar o Gabinete e difundir os ideais
liberais, buscando o reconhecimento por parte da população de um capital simbólico
necessário para moldar a sociedade em questão.
Os liberais
republicanos queriam criar uma identidade e a maneira escolhida para tal foi a
de criticar a organização política, econômica e cultural do Império A crença de
que era possível construir uma imagem de progresso, levar Sergipe rumo à
civilização, com os ideais liberais e republicanos que marcavam a realidade
nacional neste momento da criação do Gabinete de Leitura de Maruim e participar
ativamente no processo de construção desta identidade são os principais fatores
que incentivaram a participação desses agentes em instituições culturais como o
Gabinete de Leitura de Maruim.
A base de sustentação dos seus discursos foi os
ideais liberais e republicanas, se tornando como instituições de utilidade
pública, o que demonstrava a sua relação direta com o estado. Já com relação à
necessidade de democratização da cultura, almejavam ampliar a ação instrutiva
para os grupos economicamente menos favorecidos da sociedade, fundando escolas,
franqueando ao público uma Biblioteca, promovendo conferências literárias e
científicas, colóquios, festejos no
período de aniversário das instituições, e
os saraus.
Como advento da República, percebe-se uma mudança
significativa nas relações do Gabinete de Leitura de Maruim com os Governantes
de Sergipe, que podem ser exemplificados através do reconhecimento de Utilidade
Pública através do Deputado Federal, natural de Maruim, Deodato Maia, o
Gabinete de Maruim é reconhecido de
Utilidade Pública Federal em 1º de outubro de 1919, através do decreto federal
nº 3776 ou de concessão de subvenções. A esfera pública que inicia como
particular e literária, sobrevivendo apenas das doações dos seus sócios, passa
a ter um auxílio expressivo do Estado.
Na sua inauguração o Gabinete funcionava em uma
casa alugada à rua do Cabula, atualmente rua Fausto Cardoso e em 17 de janeiro
de 1926, com o auxílio da Prefeitura Municipal, adquiriu um prédio próprio na
Praça da Matriz O Gabinete de Leitura de Maruim surge enquanto lugar da
sociabilidade, uma esfera pública aonde, atrelada a outras instituições liberais
e republicanas, no Brasil.
Ressaltamos que na tribuna do Gabinete passaram
grandes conferencistas como, Tobias Barreto, Silvio Romero, Fausto Cardoso,
Gumercindo Bessa, Felisbelo Freire, Homero de Oliveira e tantos outros , temos nos dias atuais como conferencista, a Prof.ª Verônica Nunes,
Aglaé Fontes de Alencar, prof.ª Lucia Marques
e o Prof. Denio Azevedo.
Nas comemorações de aniversario do gabinete de
Leitura se mantei as tradições das grandes conferencias, de trazer para a
sociedade temos importantes que vem contribuir para a preservação e memória da
cultura local. Denio Azevedo, a bióloga Lúcia Marques e Verônica Nunes são os
novos conferencistas, suas temáticas voltada para a história e memória do Gabinete de leitura de
Maruim nos seus 136 anos de tradição, abrindo sua tribuna para os grandes
intelectuais da nossa História.
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