GUARDIÃ DA HISTÓRIA E MEMÓRIA DE MARUIM
Os Gabinetes de Leitura criados no Brasil pelos
portugueses - o do Rio de Janeiro foi o primeiro, mas mais tarde virão os do
Recife (1850) e o da Bahia (1863). Sabe-se ainda da existência de outros Gabinetes
fundados normalmente por estrangeiros que residiam no Brasil neste momento. Em
Sergipe existiram , o Gabinete Literário Laranjeirense, o Gabinete de Leitura
de Riachuelo, Gabinete de Leitura de Tobias Barreto, e o Gabinete de leitura de
Maruim que esse ano esta completando 136 nos
de existência como guardiã na história e memória do povo sergipano.
O Gabinete de Leitura de Maruim teve
como mentor o cônsul Otto Schramm. As cartas de sua tia Adolphine revelam que
em 1860, já possuía em sua residência um rico acervo, que possivelmente, todo
ou parcialmente, fora transferido para a biblioteca do Gabinete. Estamos
tratando de um espaço de sociabilidade, com um vasto capital cultural, não só
para Maruim, mas de referência em Sergipe; tanto enquanto Província do Império,
como em Estado da Federação, haja vista a importância deste espaço em ocasião
dos acalorados debates liberais republicanos.
Ultimamente o historiador Denio Azevedo
tem pesquisado a fundo a história do Gabinete de leitura, e nesse aniversario
dos 139 anos será um dos conferencistas
das comemorações, segundo o pesquisador
o alemão Otto Schramm é o grande responsável pela
criação do Gabinete de Leitura de Maruim em 1877, uma instituição privada,
veiculadora dos ideais liberais, abolicionistas e republicanos.
Em 1860, Adolphine Schramm, alemã e tia do grande
mentor do Gabinete de Leitura de Maruim, o cônsul F. Otto Schramm, já relatava
a existência de uma potencial biblioteca em sua residência: “encomendamos uma
seleção de livros interessantes, agora lidos por todos os participantes da
nossa pequena colônia alemã.
Tempos depois, o acervo particular dos
Schramm, possivelmente, foi todo ou parcialmente transferido para a Biblioteca
do Gabinete de Leitura de Maruim, juntamente com o modelo de empréstimo das
obras.
Nos
relatórios do gabinete registrado também no livro de Joel Aguiar “Traços da História de Maruim” aponta
que no interior do Gabinete constava um
acervo, já no segundo ano de funcionamento, com 667 obras em seu interior em
1076 volumes, distribuídos em português, espanhol, alemão, inglês e latim. No
final do XIX e início do XX, já constavam 2.070 obras, em 2.781 volumes e a
novidade Seriam 154 obras em francês, distribuídos em 236 volumes. De acordo
com Martins (1990, p. 77) no mesmo período a Biblioteca do Gabinete Português
de Leitura da Bahia constava um acervo de 3.000 volumes. Portanto não muito
diferente da realidade sergipana e ainda levando em consideração o tempo de
atividade e deste último está localizado na antiga capital do Império. De
acordo com o catalogo da biblioteca do Gabinete, no acervo da instituição em
Maruim no final do século XIX, constava obras de Voltaire (1860), Rousseau
(1857), Júlio Verne (1878), Michelet (1863), Balzac (1863), M. A. Thiers (1862)
com a sua “História da Revolução Francesa”, Antônio Feliciano de Castilho
(1863) em “Camões: estudo histórico e poético”, Frédéric Soulie (1852) com “Le
Veau d’or”, I. F. da Silva e L. A. Rebello da Silva (1853) em “Poesias de
Manuel Maria de Barbosa du Bocage”, Sebastião da Rocha Pitta (1880) “História
da América Portugueza”, Visconde de Taunay (1896) com “Innocencia”. Obras
normalmente editadas em Paris, Bruxelas e Lisboa.
O Gabinete efetiva-se no cotidiano enquanto
importante casa de divulgação do conhecimento científico e literário. Em 1889
os sócios do Gabinete de Leitura de Maruim inauguram a “Revista Literária”, que circulou durante dois anos. Vale a
pena ressaltar que esta instituição tinha a sua própria tipografia.
Em Maruim o espaço do Gabinete era um dos locais
onde a nova tendência política seria apresentada, debatida e externada, com
interesses bastante específicos, tais quais a adaptação a nova realidade e a
conquista de um capital simbólico. Portanto, um grupo que fazia “oposição” ao
principal representante político e econômico do município, o Barão de Maruim,
decide fundar o Gabinete e difundir os ideais liberais, buscando o
reconhecimento por parte da população de um capital simbólico necessário para moldar a sociedade
em questão.
Queriam estes agentes criar uma identidade
liberal-republicana e a maneira escolhida para tal foi a de criticar a
organização política, econômica e cultural do Império A crença de que era
possível construir uma imagem de progresso, levar Sergipe rumo à civilização,
com os ideais liberais e republicanos que marcavam a realidade nacional neste
momento da criação do Gabinete de Leitura de Maruim e participar ativamente no
processo de construção desta identidade são os principais fatores que
incentivaram a participação desses agentes em instituições culturais como o
Gabinete de Leitura de Maruim.
A base de sustentação dos seus discursos foi os
ideais liberais e republicanas, surgindo ou se tornando como instituições de
utilidade pública, o que demonstrava a sua relação direta com o estado. Já com
relação a necessidade de democratização da cultura, almejavam ampliar a ação
instrutiva para os grupos economicamente menos favorecidos da sociedade,
fundando escolas, franqueando ao público uma Biblioteca, promovendo
conferências literárias e científicas, organizando o lazer com teatro, jogos de
carta, colóquios, festejos no período de aniversário das instituições, saraus,
o elogio a pares, a homenagem a expoentes locais e traçar os rumos da nova
sociedade na crise do Império, sempre como expressões da modernidade.
Como advento da República, percebe-se uma mudança
significativa nas relações do Gabinete de Leitura de Maruim com os Governantes
de Sergipe, que podem ser exemplificados através do reconhecimento de Utilidade
Pública através do Deputado Federal, natural de Maruim, Deodato Maia, o
Gabinete de Leitura de Maruim é reconhecido de Utilidade Pública Federal em 1º
de outubro de 1919, através do decreto federal nº 3776 ou de concessão de
subvenções. A esfera pública que inicia como particular e literária,
sobrevivendo apenas das doações dos seus sócios, passa a ter um auxílio
expressivo do Estado.
Na sua inauguração o Gabinete funcionava em uma
casa alugada à rua do Cabula, atualmente rua Fausto Cardoso e em 17 de janeiro
de 1926, com o auxílio da Prefeitura Municipal, adquiriu um prédio próprio na
Praça da Matriz O Gabinete de Leitura de Maruim surge enquanto lugar da sociabilidade,
uma esfera pública aonde, atrelada a outras instituições liberais e
republicanas, no Brasil, e ratificando o pensamento de Faoro, “silenciosamente,
alguma coisa acontecia, passo a passo minando as bases da Monarquia.
Muito boa matéria. Esse documentário foi feito por mim e alguns colaboradores de um movimento cultural da cidade de Maruim, chamado SARAU DE DENTRO. Somos um coletivo cultural apartidário, e temos orgulho de morar em uma cidade que possui um prédio como o Gabinete de Leitura de Maruim. O link do documentário segue => https://m.youtube.com/watch?v=FbjDFdVHLco espero que assista e goste. E veja a realidade do nosso Gabinete.
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