domingo, 2 de dezembro de 2012

ARACAJU


Luis Antonio Barreto



Em Torno do Topônimo Aracaju
Gabriel Soares de Souza, no seu monumental Tratado descritivo do Brasil em 1587, refere-se assim ao Morro do Urubu, que era denominado, nas Cartas náuticas...
 
(Foto: Arivaldo Azevedo Santana/Fotos Antigas Portal Infonet)
Gabriel Soares de Souza, no seu monumental Tratado descritivo do Brasil em 1587, refere-se assim ao Morro do Urubu, que era denominado, nas Cartas náuticas, de Morro do Aracaju: “A este monte chamam os índios Manhana, que quer dizer entre eles “espia”, por se ver de todas as partes de muito longe. O termo Manhana, que existe na língua hebraica, tem sido traduzido como “atalaia”, “vigia,” o que é semelhante ao “espia” dos Tupinambás. Isto remete a outros termos indígenas, que parecem descender de velhos idiomas.

Na língua Tupi, ou Neengatu ( língua geral), a mais falada na costa brasileira quando dos descobrimentos, sobreviveram vários prefixos e muitas palavras que guardam semelhança com línguas cultas de outros tempos, como o Sânscrito e  o Grego. O prefixo ARA, por exemplo, tem a mesma etimologia primária em Tupi e em Sãnscrito, significando Dia, Tempo, Mundo, enquanto ARÁ, ORÓ, do Tupi, quer dizer Colina no idioma grego, segundo o professor Adaucto Fernandes, autor de A Gramática Tupi e de Povos Indígenas do Brasil, considerado um dos mais competentes estudiosos das línguas indígenas do Brasil.


Sobrevive em Sergipe o topônimo ARAUÁ, que designa município do sul do Estado. Antonio Houaiss no seu Dicionário da língua Portuguesa (2001) define os arauás como indígena pertencente a qualquer dos grupos arauás; grupos indígenas cujas línguas pertencem à família lingüística arauá; grupo indígena, hoje considerado extinto. Também grafado ARAWÁ. Nos velhos dicionários são citados, também, os índios ARACAJUS. Tais casos, de recorrência à línguas mortas, chamam a atenção para a falta de uma regra etimológica capaz de sanar todas as dúvidas que ainda persistem entre os pesquisadores e historiadores sergipanos.
Desconsiderando a relação ampla e dinâmica entre as nações indígenas e a toponímia, são conservados conceitos lúdicos, cristalizados pelo uso,como é o caso de ARACAJU como “Cajueiro dos Papagaios,”espécie de tradução oficial e única, que despreza tudo o mais que os estudos produziram, a partir da obra de Adaucto Fernandes, autor nascido e criado na região amazônica, respeitado pelo domínio de línguas indígenas do norte do Brasil. É certo que dois autores, um da Bahia – Teodoro Sampaio – e outro de Sergipe – Armindo Guaraná – deixaram contribuições merecedoras do aplauso público, no entanto são muitas as lacunas e diversas opiniões forçadas, sem amparo da pesquisa no universo das línguas e dialetos, em grande número, incluindo a ausência de comparações vocabulares com velhos idiomas, descartados.
O que ocorre com Aracaju não é coisa única. O vocábulo SERGIPE,que dá nome ao território situado entre os rios São Francisco e Real, passa pela mesma crítica ao ser identificado, etimologicamente, como “rio dos siris,” pelo tupi siri-i-pe.  Bastaria perguntar se a Ilha, na região da Baia da Guanabara, onde estiveram os franceses no século XVI, antes da catequese de 1575 e da conquista de 1590, também poderia ter recebido o nome de Sergipe por ser “rio dos siris.” Na Bahia, onde foi montado o Engenho de Mem de Sá, mais tarde do Conde de Linhares, o rio Sergipe também seria “rio dos siris?” Por que, então, o rio Sergipe que traz as suas e outras águas para jogar no mar, em Aracaju, é o “rio dos siris?
Assim como a letra, quilométrica e pouco poética, do Hino de Sergipe tem sido questionada, circulando algumas idéias de revisão textual, para tornar mais próximo do povo o símbolo que marca, desde 1836, a emancipação política de Sergipe, cogitou-se, também, reexaminar, pela ótica da heráldica, a Bandeira de Sergipe, pano simbólico que desde as façanhas comerciais de Bastos Coelho, vendendo sal sergipano ao Brasil, tremula como representação da unidade territorial, representada pelas estrelas, aludindo a barras dos rios que banham as terras sergipanas. O assunto está em aberto, merecendo exame claro e definitivo, corrigindo o que por erro ou por outro motivo chegou disforme, impreciso, ao conhecimento das novas gerações de sergipanos.
São Cristóvão, tornada Monumento Patrimônio da Humanidade recentemente, deve rever seus conceitos, para bem fazer as honras da posição conquistadas junto a UNESCO. Não foi, certamente, pela divulgação da velha capital de Sergipe como sendo a “quarta cidade mais antiga do Brasil”que São Cristóvão galgou tão importante e seleto lugar. São Cristóvão tem, de verdade, méritos diversos e únicos a uma cidade brasileira, fundada sob o domínio espanhol, que agenciou três belos Largos, postos à disposição dos olhos mais exigentes. Hoje, graças aos esforços locais de Tiago Fragata, e da presença de Aglaé Fontes como Secretária Municipal de Cultura, São Cristóvão fará, com certeza, o esforço para conservar o título conquistado

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