segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A Revolução de 1930 em Sergipe os Interventores



Por Luiz Antônio Barreto




O presidente Manoel Dantas elegeu seu sucessor na presidência do Estado, o comerciante Francisco de Souza Porto, experiente político oriundo do município de Nossa Senhora das Dores, por várias vezes deputado estadual, presidente da Assembléia, casado na família dos trucidados de Araraquara, episódio de violência da chamada República Velha, em São Paulo. Os revolucionários de 1930, no entanto, tiraram Manoel Dantas do Poder e não reconheceram a eleição de Francisco de Souza Porto, estabelecendo a política dos Interventores Federais, com plenos poderes no Estado.





Passada a fase de transição, que teve como governantes provisórios Eronídes de Carvalho, general José Calasans, Almirante Amintas José Jorge e, novamente, o general Calasans, assume o poder como Interventor Federal, em 16 de novembro de 1930, Augusto Maynard Gomes, líder do movimento tenentista de 1924 e de 1926, depondo o presidente Graccho Cardoso. A primeira fase da Revolução de 1930 enfrentou questionamentos dos que pretendiam a constitucionalização imediata do país, simbolizados na Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo.
Sobreveio, então, a formação dos partidos para a organização constitucional do Estado brasileiro. Em Sergipe não foi diferente. O médico Augusto Leite, com seu irmão Júlio Leite e com alguns amigos, organizou a União Republicana e com ela concorreu à Constituinte federal. O mesmo fez Leandro Maciel da lista Liberdade e Civismo, em 1934, convertido em Partido Social Democrático. Getúlio Vargas se torna Chefe do Governo da República, enquanto nos Estados repete-se a organização jurídica, com a adaptação da Constituição estadual à Constituição Federal.
Augusto Maynard Gomes, que governa o Estado, tem também seu Partido Republicano Federal e governa até 28 de março de 1935, ou até que é eleito o médico e também militar Eronides Ferreira de Carvalho Governador constitucional do Estado. O mandato do Governador, iniciado em 2 de abril de 1935 e que pela Constituição do Estado deveria ser extinto em 2 de abril de 1939, não se cumpre, por conta da decretação, em 10 de novembro de 1937, do Estado Novo.
O País mergulha nas brumas da incerteza, mas em Sergipe o governador Eronides Ferreira de Carvalho se torna Interventor Federal, estabelecendo seu mandato até 30 de junho de 1941. Assume o Governo o Interventor Milton Pereira de Azevedo, também militar, em 1º de julho de 1941 e permanece até 27 de março de 1942. Augusto Maynard Gomes volta a ser Interventor, de 27 de março de 1942 a 27 de outubro de 1945.
Outros Interventores Francisco Leite Neto (de 27 de outubro a 5 de novembro de 1945), Hunald Santaflor Cardoso (de novembro de 1945 a 31 de março de 1946), Antônio de Freitas Brandão, outro militar graduado (de 31 de março de 1946 a 30 de janeiro de 1947) e Joaquim Sabino Ribeiro, que assumiu o Governo na condição de Presidente do Conselho Administrativo do Estado (de 30 de janeiro a 29 de março de 1947), governaram Sergipe, até que fosse realizada a eleição para governador do Estado, em janeiro de 1947. Foram, assim, quase 17 anos de Interventores e governantes provisórios, na maioria dos anos sem o funcionamento da Assembléia Legislativa.
Os partidos políticos nacionais foram criados a partir de 1945, repercutindo em Sergipe. Augusto Leite, que em 1937 desiste da política, deixa com seu irmão Júlio Leite e seu sobrinho Armando Rollemberg, Gonçalo Prado, e com outros proprietários rurais a organização do Partido Republicano (PR). Leandro Maciel, com Luiz Garcia, Heribaldo Vieira, Seixas Dória, Pedro Diniz Gonçalves Filho, Walter Franco e outros, organizava a União Democrática Nacional (UDN). Francisco de Araújo Macedo, que estava no Partido Republicano Federal, cria o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Francisco Leite Neto, Acrísio Cruz, Manoel Cabral Machado, Marcos Ferreira de Jesus, Edelzio Vieira de Melo, José Rollemberg Leite e outros fundam o Partido Social Democrático – PSD.
Orlando Dantas com um grupo de amigos funda a Esquerda Democrática e depois organiza o Partido Socialista Brasileiro (PSB). Graccho Cardoso, Augusto Maynard Gomes e outros organizam o Partido Social Progressista (PSP). O Partido Comunista Brasileiro (PCB) também está organizado e tem em Carlos Garcia e no médico Armando Domingues suas grandes lideranças. São tais partidos que disputam as eleições, depois da redemocratização do Brasil e dividem o Poder em Sergipe, até o golpe militar de 1964, que no ano seguinte extingue os partidos e cria, logo depois, apenas duas agremiações políticas: uma de apoio incondicional ao Governo dos generais, a Arena – Aliança Renovadora Nacional, e outra para fazer oposição, o MDB – Movimento Democrático Brasileiro. Tais partidos sobreviveram únicos até 1979, quando começaram a ser organizadas novas agremiações, reunindo as tendências políticas dos brasileiros. Tanto a Arena, mais tarde PDS, quanto o MDB, mais tarde PMDB, serviram de incubadora para os novos partidos que surgiram no Brasil, desde a anistia de 1979.
Os dois principais Interventores tiveram futuro diferenciado. Maynard foi eleito senador em 1947, pela coligação PSD-PR, derrotando o ex-presidente Graccho Cardoso, que concorreu pela UDN. Em 1954, concorrendo pela coligação formada pela UDN-PSP-PST, Augusto Maynard Gomes foi eleito para novo mandato no Senado, morrendo em 1957, sendo substituído pelo seu sobrinho e suplente Jorge Campos Maynard.
Já o governador e Interventor Eronides Ferreira de Carvalho concorreu, e perdeu, a eleição de 1954, como candidato a deputado federal. Mudou-se para o Rio de Janeiro e tornou-se dono de um Cartório, no centro da então Capital Federal. Dos demais governantes entre 1930 e 1945 o que teve carreira política consagrada foi Francisco Leite Neto, que foi deputado federal várias vezes e em 1962 foi eleito senador da República, morrendo em 1964 e deixando seu irmão e suplente José Rollemberg Leite para cumprir o restante do mandato (de 1964 a 1970).
O Interventor e o Cangaço
O Interventor Eronides Ferreira de Carvalho, filho de Antônio Ferreira de Carvalho, conhecido no baixo São Francisco como Antônio Caixeiro, estava no Governo quando morreu Lampeão (Virgulino Ferreira da Silva), em 28 de julho de 1938. O pai do Interventor era tido como coiteiro de Lampeão e seu grupo de cangaceiros, e ele próprio era apontado como fornecedor de armas modernas e munição, reforçando a resistência dos cangaceiros em confronto com as tropas da Polícia Militar e as milícias das Volantes estaduais, que usavam equipamentos velhos.
Um conjunto de fotos de Lampeão e seu grupo, tiradas na fazenda Jaramantaia, em Gararu (SE) e atribuídas ao próprio Interventor é um registro fotográfico importante, pouco conhecido, e mesmo sendo poucas fotos – Lampeão em pé, de perneira, Lampeão e seu grupo sentados, Lampeão e seu grupo montados em cavalos, Ponto Fino e Arvoredo, Zé Baiano, Corisco e outros.
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Luis Antonio Barreto

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