REFLEXÕES ACERCA DE UMA POSSÍVEL HISTÓRIA DOS FARMACÊUTICOS EM SERGIPE
Jorge Carvalho
No século XIX os farmacêuticos que atuaram em Sergipe foram formados
pelas Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro, ou em escolas
de outros países. O Livro de Registro da Provedoria de Saúde Pública da
Província registra, no ano de 1860, a atuação de sete farmacêuticos em
Sergipe: Herculano Gomes de Souza, Geraldo José Victor Bahiense, José
Theodoro da Silva, Pedro Severiano Dantas, Marcelino José Jorge,
Prudêncio Constâncio da Cunha e José da Motta Rebello (SANTANA, 1997:
83). Em 1875 trabalhava na Província, dentre outros, o farmacêutico
Josino Correia Cotias, que também era médico e cirurgião-dentista.
Não
obstante o grande número de farmacêuticos diplomados atuando em
Sergipe, até o final do século XIX a atividade era exercida por muitas
pessoas sem formação, os práticos.
A atividade dos profissionais
de farmácia em Sergipe ganhou uma regulamentação mais rigorosa em 1892,
depois da entrada em vigor do Regulamento Sanitário do Estado. Em
janeiro de 1898 foi criada uma comissão com o objetivo de regulamentar o
exercício profissional, integrada pelos farmacêuticos João Martins Pena
e Guilhermino Amâncio Bezerra, além do Inspetor de Higiene, Daniel
Campos. O reconhecimento da importância dos profissionais do setor fez
com que em 1905, quando o governo estadual criou o Conselho Geral
Sanitário, a sua composição incluísse um farmacêutico de livre nomeação
do presidente do Estado. A composição do novo órgão era a seguinte: o
Inspetor de Higiene, o Médico de Saúde do Porto, o Intendente da Capital
e três representantes da sociedade (um médico, um bacharel e um
farmacêutico).
O mesmo regulamento que definiu o Conselho Geral
Sanitário, concedia ao Inspetor de Higiene a prerrogativa de autorizar a
produção e comercialização de novos medicamentos.
Já sob o regime
republicano, após a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública,
quando da implantação em Sergipe do Serviço de Saneamento e Profilaxia
Rural, em 1923, o diretor deste novo órgão determinou que todos os
farmacêuticos, médicos e dentistas registrassem os seus diplomas na
repartição.
No jornal ‘O Estado de Sergipe’ de 11 de março de
1909, encontramos um edital da Inspetoria autorizando o Dr. Pedro
Garcia Moreno, farmacêutico de Laranjeiras, a comercializar o elixir de
caroba e nogueira, o elixir anti-diabético e o vinho intertropical,
medicamentos de sua invenção e fabricação ( SANTANA, 1997: 101).
A
preocupação com o caráter científico da atividade farmacêutica é posta
com muita clareza pelo Código Sanitário do Estado de Sergipe aprovado em
1926, ao atribuir à Diretoria Geral do Serviço Sanitário a competência
de exercer a polícia sanitária das farmácias e drogarias, bem como sobre
a fabricação de soros, vacinas, culturas atenuadas e produtos
congêneres, além da fiscalização da medicina em qualquer dos seus ramos
(farmácia, obstetrícia e arte dentária). Foi criado, novamente, o
Conselho Sanitário Central, tendo como integrantes o diretor geral do
Serviço Sanitário, os delegados sanitários dos municípios, o Intendente
Municipal de Aracaju, o professor de higiene da Escola de Farmácia e
Odontologia Aníbal Freire, os diretores do Instituto Parreira Horta e
Arthur Bernardes, do Hospital de Cirurgia e os médicos do Batalhão da
Força Federal e da Polícia Militar do Estado (SANTANA, 1997: 173).
O
Instituto Parreira Horta foi fundado em 1923, com o objetivo de
pesquisar e produzir insumos básicos para a área de saúde. A pretensão
era construir uma instituição voltada ao combate à raiva; um instituto
vacinogênico capaz de produzir vacina anti-variólica; e, um laboratório
de análises clínicas, bacteriológicas e químicas que também funcionasse
como centro de pesquisa médica. O presidente Graccho Cardoso entregou a
responsabilidade pela instituição ao médico Paulo de Figueiredo Parreira
Horta.Ele cuidou pessoalmente do projeto, da construção e da
organização administrativa e científica do Instituto. Cientista de
prestígio internacional, ao transferir-se para Sergipe viveu como
hóspede oficial do Palácio do Governo. O edifício do Instituto foi
erguido em oito meses e inaugurado em maio de 1924 (SANTANA, 1997:
176-178).