texto: Ibarê Dantas
fotos: Adailton Andrade
Pelo menos desde março de 1963, a estratégia política do governo Goulart vinha revelando-se desastrosa. As reações da maioria dos congressistas, impedindo a institucionalização das reformas, levou-o a buscar o apoio de determinados grupos mobilizados da sociedade civil (CGT, FMP, UNE) que, aliás, desconfiavam de suas ações, exigindo, inclusive, definições prévias.
Promovendo greves sucessivas, nem sempre justificáveis, discursos triunfantes e/ou insolentes, as lideranças mais açodadas proporcionavam pretextos para que as forças de direita desenvolvessem a luta ideológica, falassem de guerra revolucionária e acelerassem as conspirações. A idéia de comícios monstros ainda mais atemorizou os conservadores (civis e militares), levando-os a articulações cada dia mais amplas. Velhos políticos, com projetos divergentes, como Ademar de Barros e Carlos Lacerda, juntaram-se com o fim do que denominavam de "combater o caos". As bases políticas governistas tornaram-se mais precárias do que nunca com o afastamento do PSD, tradicional fiador do projeto populista. Na sociedade civil, entidades classistas patronais, grupos femininos (CAMDE), parte da Igreja Católica, imprensa, associações diversas, todos formaram a grande corrente de reação, sob a coordenação maior do IPES (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais), soldando os setores militares e civis e acoplando-se aos interesses do grande capital interno e externo. As revoltas dos sargentos e dos marinheiros, de um lado, levavam alguns ao devaneio de estabelecer analogia com a Revolução Russa e, por outro, indispunham decisivamente as Forças Armadas com o movimento popular, diante da quebra de hierarquia. Confiante num sistema de informação e de segurança inepto e ineficaz, o governo, isolado e debilitado, não se dispôs a enfrentar as forças da reação. Num último discurso provocante, Goulart apressou a deflagração do movimento militar contrarevolucionário, que contou com o apoio expressivo de parte da sociedade civil, identificada na defesa da ordem e da propriedade.