5 de maio de 1854.
Maruim, que um dia foi considerada o Empório de Sergipe, está decadente,
porém sua história ainda que esquecida, é rica e apresenta um vasto conteúdo
cultural.
Maruim foi berço de vários grupos empresariais que marcaram o mundo dos
negócios em Sergipe, por exemplo, Casa Inglesa, Schramm e Cia, A.Fonseca, A
Casa Cruz, Maynart e Irmãos e Soares & Prado. A força econômica de Maruim
chamou a atenção de vários países, que instalaram seus consulados em 1850, os
quais destacamos:
Alemanha, Suécia, Portugal, Inglaterra, Áustria, Noruega, antigo Reino
de Nápolis etc.
Maruim contava com cerca de 15 engenhos, porém os portugueses que
dominavam a cultura da cana-de-açúcar, detiam a maior parte das terras
maruinenses.
A família do alemão Otto Schramm foi a desbravadora no processo de
utilização do algodão, quando em 1869 montou o maior descaroçador da Província
em Maruim.
Há relatos que a primeira casa bancária de Sergipe nasceu em Maruim,
quando foi criado o setor de crédito, por Otto Schramm, para impulsionr a
economia local.
Nos dias atuais ainda percebemos influências dos alemães tanto nos
aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais, por exemplo, a origem do
nome do bairro Lachez, em homenagem ao francês Henrique José Lachez, importante
comerciante de Maruim, em 1822.
Maruim começou seu processo de decadência a partir de 1900, com o fim da
escravatura. A maioria das firmas abriram falência, e os estrangeiros foram
embora.
Portanto, nota-se que Maruim impulsionou a economia sergipana, e hoje
depende, praticamente, da capital Aracaju. Oxalá, que os governantes promovam
políticas públicas voltadas para o progresso econômico da nossa cidade, que tem
potencial, apenas está adormecido.
Maruim viveu no século passado o seu apogeu
cultural. A presença da família Sharamm, de origem alemã, e de diversas
outras figuras de estrangeiros, que representavam, consularmente, os seus países,
dinamizou a vida maruinense. Um Museu de Historia natural,como a ele se
refere o viajante Robert Avé-lallement, e o gabinete de leitura, tenho a
família Cruz como grande estimuladora, deram à maruim uma posição destacada
entre as cidades do Brasil. (Luis Antonio Barreto )
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Fundado em 1877, como associação Literária, pelos
cidadãos Joao Rodrigues da Cruz, Dr. Thomaz Rodrigues da Cruz, Robert Brow
(vice-cônsul da Grã-Bretanha ) e outros.
Essa instituição foi por muitos anos um centro de consultas
bibliográficas e ponto de encontro de intelectuais do estado e além-fronteira.
O gabinete de leitura de Maruim tem uma historia
gloriosa, da qual deixou um excelente relato o Dr. Joel Macieira
Aguiar no seu tempo, freqüentaram, ao longo do tempo, milhares de leitores, como também passaram
conferencistas, políticos, administradores, intelectuais, tornando aquele
espaço essencialmente cultural.
Tobias Barreto visitou em 1883, o gabinete de
leitura, fazendo uma conferencia e recebendo, dos sergipanos, uma homenagem
pela sua biografia genial. Oseias Santos e outros artistas da pintura deixaram
no Gabinete de leitura uma amostra do talento deste artista.
Foi em Maruim, por
exemplo, que o imperador D. Pedro II pôs os pés pela primeira vez no estado. Ele
desembarcou e pernoitou na cidade em 21 de janeiro de 1860. E a partir de lá é
que D. Pedro II segue para a Ponte do Imperador, em Aracaju, construída para
recepcioná-lo.
A
emancipação política de Sergipe fez nascer e crescer vilas e cidades, ocupando
estrategicamente o território, como suporte das atividades econômicas. A
crescente produção açucareira nas terras pretas e gordas do massapê fez de
Laranjeiras e de Maruim dois centros urbanos destacados na Província, para onde
convergiam as atenções. Estância, ao sul, Vila Nova , hoje Neópolis, e Propriá,
ao norte, Itabaiana e Lagarto, ao oeste, juntamente com a capital, São
Cristóvão, davam a Sergipe os ares do progresso.
Saveiros
e Sumacas entrando e saindo dos rios atestavam o grau de riqueza da pequena
Província, servindo para o intercâmbio social e cultural com os portos mais
importantes do Império e alguns portos do mundo, destino e ao mesmo tempo
origem de mercadorias. A exportação de açúcar e de outros produtos da terra
correspondia a importação dos bens que a incipiente sociedade consumia.
Maruim, vila em 11 de agosto de 1835 e cidade em 5 de
maio de 1854 retratava, com fidelidade, a situação próspera de Sergipe. E o
melhor testemunho está na visita que fez a Maruim o Imperador Pedro II, a
Imperatriz e comitiva, em janeiro de 1860. Todas as ruas estavam calçadas e
limpas, as casas pintadas ou caiadas, e as obras, em conclusão, da Igreja
Matriz, com recursos do Barão de Maruim confiados ao vigário José Joaquim de
Vasconcelos, encantavam os ilustres visitantes.
Maruim
tinha, em todos os seus limites territoriais, cerca de quatro mil habitantes,
sendo mais de dois mil deles moradores da cidade, onde conviviam com
negociantes estrangeiros, como os Sharhamm, de refinado gosto, que organizaram
um pequeno Museu de História Natural, com Eduardo Wien (mais tarde Wynne, com
descendência sergipana), então Vice Cônsul da Suécia e da Noruega, dentre
outros.
Os
historiadores atribuem grande importância no surgimento e no progresso de
Maruim ao proprietário rural José Pinto de Carvalho, que integrou a primeira
Assembléia Provincial e o Conselho da Província que a antecedeu, e sua mulher
Ana Aguiar Pinto, pais do bacharel Sebastião Pinto de Carvalho, um dos mais
ilustres sergipanos, nascido no território maruinense em 1827, estudante de
direito em Coimbra, Portugal, deputado provincial em Sergipe, professor de
Filosofia no Liceu da Bahia. José Pinto de Carvalho era, também, o distribuidor
dos principais jornais editados em Sergipe, a começar pelo Recopilador Sergipano,
editado em Estância, em 1832, dando à população de Maruim a oportunidade de
acompanhar o desenvolvimento da imprensa e da própria Província.
Maruim
deu a Sergipe e ao Brasil figuras ilustres como o Barão de Maruim - João Gomes
de Melo, o poeta Cleômenes Campos, Deodato Maia e Alberto Deodato, ambos
escritores e políticos, o artista plástico e professor Oséas Santos, dentre
muitos outros nomes.
Coube
ao filho de Maruim, Joel Macieira Aguiar, nascido em 11 de agosto de 1905, no
dia da celebração dos 70 anos da criação da Vila, ser a um tempo o historiador
e o cronista da cidade que completou, em 2004, 150 anos. Seu primeiro objeto de
estudo foi o Gabinete de Leitura, fundado em 1877 e que representa o melhor
exemplo da grandeza intelectual daquela cidade.
Na
lista dos fundadores, entre eles João Rodrigues da Cruz, que além dos negócios
em Maruim foi o fundador da fábrica Sergipe Industrial, de tecidos, instalada
em Aracaju em 1884. O funcionamento do Gabinete de leitura, tanto como
biblioteca, quanto como centro cultural, atraiu visitantes ilustres, como
Tobias Barreto, conferencistas de vários temas, oradores, e assistentes.
Em
1927 Joel Macieira Aguiar publica a 1ª edição do Escorço Histórico do Gabinete de Leitura de Maruim,
evocando 50 anos de atividades, salvando uma memória que o tempo e o descaso,
fatalmente, destruiria. O pequeno livro de Joel Macieira Aguiar é um roteiro de
informações, básico para a compreensão do fenômeno cultural no interior
sergipano, e que tem no velho Gabinete a expressão maior daquele tempo.
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Fonte
Texto: Keizer Santos
Imagem: Google Maps
Com informações da Revista Cinform Municípios(2002)