164 ANOS DE MUITA HISTÓRIA
Luiz Fernando R. Soutelo
Há exatamente cento e sessenta e quatro anos, completados a 17 de março de
1855, uma resolução da Assembleia Provincial elevava "o povoado de Santo
Antônio do Aracaju à categoria de Cidade" e transferia para ele a capital
da Província, até então situada na vetusta São Cristóvão, onde se instalara
depois de outras localizações a principal povoação de Sergipe nos primeiros
anos do século XVII.
Por outro lado, os grupos políticos provinciais, representados pelos
"rapinas" (liberais) e pelo "camundongos" (conservadores) -
farinha do mesmo saco, porque uns e outros saíam sempre da aristocracia rural e
procuravam mantê-la no poder foram reaproximados pelo Presidente Inácio
Barbosa, ao mesmo tempo em que realizava uma "ação moralizadora",
mantendo a província em paz.
Compreendia o Presidente Inácio Barbosa a importância do açúcar como principal
produto de exportação de Sergipe, sofrendo a concorrência internacional e as consequências de um quadro interno adverso (concorrência do café no sul, a
extinção do tráfico negreiro que obrigava o deslocamento interno de escravo).
Procurava corrigir esses problemas através da redução de impostos e do
encaminhamento de providências para aperfeiçoar os processos de produção.
Ao mesmo tempo, com uma perfeita consciência dos problemas da Província que
passara a governar, tentava organizar, segundo o projeto do Comendador
Travassos, uma companhia de reboques a vapor "que deveria agir na Barra da
Cotinguiba, com a finalidade de atrair os negreiros às nossas plagas".
E porque a barra do Cotinguiba (nome pelo qual, até a década de 20 deste
século, se conhecia o rio que banha Aracaju)? Nada mais, nada menos porque era
por ela que exportava o açúcar em maior abundância. Em 1854, 25.000 caxias de
açúcar saíam pela foz do Cotinguiba, enquanto 10.000 outras eram exportadas por
todas as outras barras.
Antes mesmo de propor a transferência da capital, a partir de novembro do ano
anterior, Inácio Barbosa dava os primeiros passos para concretizar a medida,
mudando para as praias do Aracaju a Alfândega e a Mesa de Rendas Provinciais,
criando uma agência dos Correios e uma subdelegacia de Polícia e reformando a
atalaia da Cotinguiba.
Depois de uma reunião preliminar no engenho Unha do Gato, de propriedade do
Barão de Maruim, o Presidente convocou a Assembléia Provincial para uma reunião
em Aracaju, numa das poucas casas que aí existia, o que se concretizaria no dia
2 de março. "A Assembléia, colhida quase de surpresa, recebia em seu
recinto o projeto elevando o povoado Santo Antônio à categoria de cidade e
transferindo para ele a capital da Província. As sessões arrastaram-se com uma
falta de brilho que não condizia absolutamente com a natureza da matéria
discutida. Antes a grandiosidade do projeto e a discussão se fez em ambiente
sereno. Não porque faltassem oposicionistas, mas sua linguagem não foi
tonitruante.
Os próprios deputados do Governo não pareciam acordes com as idéias do
Presidente de que resultou a falta de brilho na defesa do projeto. O panorama
desolado das praias do Aracaju, com seus areais e seus brejos, desenrolando-se
tão aos olhos dos deputados, não podia deixar de exercer sobre eles uma ação
negativa"
O certo é que, apenas com dois votos discordantes os de Martinho Garcez e do
Vigário Barroso, o projeto foi aprovado, e a 17 de março de 1855 o Presidente
Inácio Barbosa homem do seu tempo e que compreendeu a importância da medida
sancionada a resolução no 413, cujo significado deverá ser sempre evidenciado
porque, como diz o historiador Fernando Porto, representou "uma verdadeira
subversão política, econômica e social; deslocou para o norte o centro de
gravidade da política local, alterou o intercâmbio de mercadorias".
Em resumo, poderíamos dizer, como fez o historiador Fernando Porto, que
"Aracaju foi uma das mais felizes vitórias da Geografia".
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